"Gosta dos livros? Deixe-os
partir"
Ao lado do café Anna Blume, está
a árvore-biblioteca cuja ideia é partilhar livros
Na cidade de Berlim, onde a
metamorfose iniciada logo após a reunificação da cidade e da Alemanha parece
estar quase concluída, ainda existem projectos que surpreendem. A meio da
Kollwitzstrasse, na esquina com a Sredzkistrasse, no trendy distrito de
Prenzlauer Berg, uma mulher enche os troncos das árvores de livros que já leu e
reconhecidamente já não precisa de ter em casa. "Prefiro colocá-los aqui
do que deitá-los para o lixo", afirma.
É a primeira biblioteca ao ar
livre aberta ao público. Trata-se de uma minifloresta de cinco troncos unidos,
sem ramos e com os interiores ocos, cujo espaço serve apenas para receber
livros. Os temas abordados pelas obras não obedecem a requisitos especiais. O
importante é que quem já não precise de determinados livros em casa os possa
dar e partilhar. Por outro lado, qualquer pessoa pode levar um volume que lhe
interesse particularmente, sem precisar de devolver. No interior oco, protegido
com portas de plásticos que evitam a entrada de água, existem romances, manuais
de informação tecnológica, livros de poesia, literatura inglesa ou livros de
culinária. Os troncos têm capacidade para abrigar cerca de cem livros.
A ideia por detrás deste projecto
está ligada ao movimento internacional de BookCrossing, cujo mote é: "Se
ama os livros, deixe-os em liberdade."
Trata-se de um movimento a nível
mundial que encoraja as pessoas a distribuir, dividir e a partilhar livros. A
ideia é simples: basta deixar um livro em qualquer local público onde seja
fácil de encontrar, ou então levar um que alguém tenha deixado. Para entrar
neste projecto, basta ir ao website, registar o livro, e anotar um determinado
código e, finalmente, deixá-lo num avião, no metro, num parque ou num tronco de
árvore, como acontece na cidade de Berlim. No fundo, a ideia é estabelecer uma
cadeia que permita acalentar o sonho de transformar o mundo numa gigantesca
biblioteca.
O pai do projecto, Ron
Horn-baker, quer que o mundo se torne numa livraria gigante e livre; segundo o
website www.bookcrossing.com, quase 900 mil pessoas estão envolvidas neste
"leva e traz", num total de quase sete milhões de livros em 132
países, sendo que nos primeiros lugares aparecem os Estados Unidos e a Alemanha
e, em nono lugar, Portugal.
O projecto de Prenzlauer Berg,
que também está presente em Hamburgo, envolveu duas dezenas de carpinteiros,
artistas e estudantes que partilham os valores da BMBF, um programa de apoio às
florestas, campanha implementada em Berlim e Brandeburgo. Os troncos das
árvores são provenientes da floresta de Grunewald, em Berlim, com cerca de três
mil hectares, considerada um dos pulmões da cidade. Em Prenzlauer Berg, noite e
dia é possível pesquisar os livros dentro dos troncos. Não existe qualquer
controlo. A manutenção e conservação do projecto assentam na confiança.
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